05 fev Homens e alta sensibilidade
Texto de autoria de Fábio Cunha.
A cultura que dita um padrão de comportamento onde os homens não podem demonstrar emoções é danosa a todos os homens, mas para os homens mais sensíveis é devastadora.
Eu sempre me senti deslocado e com dificuldade em me encaixar no padrão. Sentia algo estranho, uma falta de sentido, uma ansiedade, uma sensação de estar sempre no lugar errado. Nunca consegui concordar e me encaixar no discurso competitivo entre os homens ou a forma de ver as mulheres.
Era como se os outros não sentissem o que eu sentia, não vissem o mundo da forma como eu via. Em muitas fases da minha vida, principalmente a partir da adolescência, eu fui me adaptando para poder pertencer ao grupo. Enquanto estava com os amigos fingia que era igual a eles, mas quando estava só era onde eu realmente me encontrava e deixava a minha sensibilidade extravasar através dos livros, músicas e filmes que assistia quase em segredo.
Por muito tempo eu não entendi minha dificuldade em me adaptar a certos ambientes, a necessidade de ficar só para me recarregar e o modo como eu sentia profundamente o ambiente emocional à minha volta. Não conseguia explicar isso. Nunca comprei a ideia de sucesso que as pessoas vendem, sempre me importou mais o propósito do trabalho e impacto no mundo do que o salário ou o valor da empresa na bolsa. Por quase 40 anos achei que eu tinha muitos defeitos que faziam eu não conseguisse atender à expectativa que a sociedade tinha de mim.
Um dia um livro me chamou a atenção, parecia que ali havia uma salvação: O Poder dos Quietos de Suzan Cain. Neste livro eu conheci o conceito de Pessoas Altamente Sensíveis e pela primeira vez eu me compreendi. Comecei a pesquisar sobre esse traço, mas ainda sentia que faltava uma parte desse quebra-cabeça que era entender como isso se relacionava especificamente com o fato de ser homem.
Paulo Ferreira
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